Imbécil

Tenho uma boa casa em Imbé. Fica na avenida principal, de frente para o rio. Passei os melhores verões da minha vida naquele sobrado feito pelo meu avô Nikifor. Mas não vou pra lá há oito anos. Agora a família cuida do patrimônio e aluga para famílias de desavisados que vêm do Interior. O dinheiro da locação paga os impostos, a manutenção e ainda sobra algum troco para as tias. No verão de 2001, o Kekê Karaoquê instalou seu circo num espaço em frente a minha casa. Os arruaceiros cantavam bêbados até as sete da manhã e o vento sul os colocava dentro do meu quarto. Ao levantar, vi que a calçada (de grama) estava coberta de latinhas de cerveja, preservativos usados, além dos prosaicos xixi e coco. Fiz as malas e nunca mais voltei. Pelo que me contam, só piorou.

Imbé, cavalos crioulos e salsichas


A administração de Imbé optou pelo pior caminho para atrair turistas: liberar alvarás indiscriminadamente. Oferecer serviços e favorecer o comércio sem critério é um recurso comum dos prefeitos de nossas praias. Este modelo equivocado faz crescer um comércio pobre, sem inovação e auto-fágico, que faz os concorrentes devorarem-se uns aos outros. Na avenida principal de Tramandai, por exemplo, estão alocados quase 40 – carrinhos e 30 deles são de crepe no palito. Vejam o circulo fatal:
  • a prefeitura libera alvarás demais e sem critério;
  • o empreendedor investe suas economias num carrinho de cachorro-quente (vamos trabalhar curtindo a praia, nega véia!);
  • vários empreendedores têm a mesma idéia, então ninguém ganha dinheiro;
  • por causa da perversa concorrência, o empreendedor recorre a baixar seus custos para atrair a clientela.
  • para baixar os custos, o empreendedor compra matéria-prima de segunda categoria;
  • se comprar um cachorro-quente de segunda, o bom cliente não gosta e não volta;
  • volta apenas o cliente que não se importa em comprar um cachorro-quente de segunda;
  • a praia acaba atraindo apenas os turistas que não se incomodam em comprar um cachorro-quente de segunda;.
  • quem não se incomoda com um cachorro-quente de segunda, também agüenta o keke karaoque e faz xixi na frente da casa dos outros.
No final dessa espiral negativa, o empreendedor perde seu dinheiro, a prefeitura não arrecada, as instalações ficam abandonadas, o turista fica insatisfeito e vai embora ou se conforma com a precariedade. Então, você acaba entendendo porque existem os abigeatários miseráveis que matam um cavalo crioulo campeão para fazer salsicha. Essa salsicha sem condições de higiene, sem controle da Saúde, ou seja, matéria-prima de segunda categoria que tem o preço mais barato, vai parar lá no cachorro-quente de Imbé. Entende a espiral negativa?

Adeus Kekê Karaoquê

Então, descobri a Ponta do Papagaio, um canto de praia entre o Sonho e a Pinheira, em SC. Foi onde minhas filhas conheceram um mar limpo e sem buracos. Há oito anos venho para a Pousada do Corsário, numa cabana reservada de frente para o mar - que miro enquanto redijo este texto. Durmo com o marulho das ondas e me empanturro de marisco (R$ 1,50 o quilo) e ostras frescas. O melhor desta praia, no entanto, é que os brigadianos daqui fazem cumprir a lei que determina pesada multa para o som alto, além de quatro pontos na carteira. Você sabe o que é atravessar 10 dias na praia sem ouvir Ivete Sangalo? Adeus, Kekê Karaoquê!

Passaporte de acesso para Florianópolis, uma idéia cada vez mais sensata.

A coisa se repetiu em 2009. Não cabe mais gente em Florianópolis. Nesta época do ano aproximadamente mais 400 mil pessoas somam-se aos habitantes nativos. No Natal e Ano Novo falta água. Falta luz. Falta comida em restaurantes. E sobram filas. Filas para ir à praia. Fila para o restaurante. A RBS não apóia – que manda na Ilha – o movimento em prol da restrição de acesso a Ilha para quem não é nativo. Assim como em Fernando de Noronha, você compra um passaporte de acesso válido por alguns dias, pagando multa diária após a expiração do prazo. É uma boa idéia e eu compraria para ter mais tranqüilidade.

Campeonato de fogos é uma chatice

No ano passado, sucumbi a Florianópolis na virada do ano. Meio resistente, atendi ao pedido de minha esposa e fomos ver o “festival” de fogos na Beira-Mar. Anunciavam que seria o recorde nacional: 14 minutos de explosões. Havia meio milhão de pessoas, naquele clima de renovação, brindes, coisa e tal. E então, ao final da contagem regressiva, finalmente o momento sublime dos fogos. Maravilhosos nos primeiros cinco minutos. Nos 10 minutos de queima, o pessoal já estava meio de saco cheio. Acho que a magia dos fogos de artifício está na sua fugacidade, quando se esvanece deixando aquele gostinho de “quero mais”. No entanto, recrudesce pelo Brasil a competição para ver quem fica mais tempo soltando foguete. Quanto mais longo, mais chato. Nessa eu não caio mais.

E que tal o Uruguai?

No Reveillon deste ano tomei o caminho contrário. Me fui para o Uruguai, seguindo a propaganda feita pelo Gilton Frisina e pelo senador Poli. Escolhi Punta del Diablo, uma pequena praia entre rochedos, há 50 quilômetros do Chuy. Entrei no www.puntadeldiablo.com.uy e escolhi uma cabana bem legal, a 80 dólares a diária. De frente para o mar. Não tem stress na fronteira, desde que você faça a tal “carta verde”, um seguro internacional para o carro. Ali nas bandas, têm várias outras praias muito bacanas, especialmente aquelas do Parque Santa Teresa, mantida pelo Exército uruguaio. Outras vantagens muito legais:

  • Estrada sem stress
  • Preços mais baratos
  • Compras de queijos e champanhas no Chuy
  • Não tem som alto
  • Mar limpo
  • Restaurantes muito bons (de frutos do mar)
  • Povo tranqüilo e gentil
  • Turistas (na maioria, jovens) de toda parte do mundo