Quando o Roger ajoelhou...


O jogador Roger do (meu) Grêmio é mesmo um sujeito inteligente. Conferi isso de perto no lastimável jogo de despedida semestral no Olímpico. Alheio ao passeio do adversário, como num conto do Sergio Santana*, eu fiquei analisando os movimentos do loirinho. Aqueles atletas que querem aprimorar seu relacionamento falacioso com a torcida para se preservar no time não precisam arrumar namoradas tão bonitas, mas devem rever em vídeo os jogos do Roger, em especial este com contra o Atlético de Goiás:

> Heróico, Roger entrou em campo falseando dor no pé;
> Aos cinco minutos, cavou e fez o juiz dar um pênalti inexistente;
> Cobrou o pênalti no meio do gol e saiu para a torcida agarrando o distintivo;
> No intervalo, disse ao repórter que agüentaria apesar da dor no pé;
> Jogou-se - em vão - em jogadas visivelmente perdidas, mostrando entrega;
> Passou o jogo inteiro simulando faltas com cara de dor intensa;
> Ao final, cabisbaixo por ver o jogo encaminhar-se para decisão nos pênaltis, foi comovente: chamou os demais e ajoelhou-se no centro do gramado, rezando.

O estilo de Roger é resultado decantado de muitos anos de malandragem no futebol brasileiro e nos causa dois sentimentos paradoxais. O primeiro, na definição de “craque” e “catimbeiro”, cuja resolução é simplificada: se é do meu time é “craque”, se joga no adversário, é “catimbeiro”. O segundo paradoxo poderemos ouvir do dirigente do Clube: “ele catimba, mas resolve”.

Para que servem os azuizinhos?


Os azuizinhos são os caça-níqueis da prefeitura, travestidos de orientadores do trânsito. Não prestam serviço algum à comunidade. Eles circulam às espreitas, não devolvem segurança, informação, ostensividade, e sequer simpatia. E ainda ganham o dobro de um brigadiano. A Prefeitura (ou candidatos) precisam decidir corajosamente pela substituição dos azuizinhos pela volta da BM às ruas. Que assinem um convênio com a Brigada Militar, como fazem centenas de prefeituras pelo interior do Estado.

Azulzinho é uma ótima opção de trabalho entre a “galera”

A EPTC realiza em janeiro provas do Concurso Público para Agentes de Fiscalização de Trânsito, os azuizinhos. Registrei a empolgação da “galera” no fórum http://www.forumpci.com.br/topico/3725592/12 trocando informações sobre o Concurso:
“Cara, tenho alguns amigos q ainda trabalham lá desde minha época e me falaram que não dá para comparar. Logo q começamos, o trabalho era extremamente cansativo, ... hj não existe mais estas áreas enormes para caminhar a pé e tampouco efetivo para cobrir toda a área de cada região (leste, norte, sul e centro). Meus amigos q continuam me falam q está muito tranqüilo de se trabalhar e quem tem disponibilidade de tempo faz bastante hora extra, duplicando e quase triplicando o salário. Enfim, é uma ótima opção de trabalho”

Quanto ganha um azulzinho?

Alem da barbada no trabalho, o cargo de agente de segurança atrai pelo bom salário inicial e os benefícios. Os dados abaixo tratam da remuneração dos Agentes de Fiscalização de Transito, segundo o acordo coletivo fechado entre o Sintran e a EPTC em maio do ano passado.

R$ 1.125,00 (salário base por 36 horas semanais)
+ R$ 393,00 (35% adicional por risco de vida, insalubridade)
+ R$ 330,00 (vale refeição)
R$ 1.848,00 total (com reajuste em maio pelo índice acumulado do INPC-IBGE)

+ horas extras (60h permitidas)
+ auxílio-creche (R$ 160,00 para cada filho, em média)
+ 13º e férias proporcionais
+ 2% a cada dois anos sobre o básico (biênio)
+ seguro-saúde
+ auxílio-funeral
+ gratificação natalina (R$ 330,00)
+ viatura nova
+ colete a prova de balas
+ uniforme

O azulzinho multa carro enquanto o brigadiano enfrenta marginal.

Para enfrentar bandido na rua, o soldado da BM ganha R$ 783,43. Os brigadianos recebem vale refeição de R$ 4,38 por dia. Os soldados que cumprem seis horas de patrulhamento na rua ainda recebem R$ 5,22. O baixo salário se soma ao sucateamento da frota de viaturas, falta de coletes à prova de bala, apagão no sistema de rádio, atraso de salários, excesso de carga horária, não pagamento de horas extras e falta de fardamento, conforme a Associação de Cabos e Soldados. O próprio Governo reconhece a penúria e o déficit de sete mil homens na corporação (hoje são 22 mil).

Pelo retorno dos antigos “Pedro e Paulo”


O Policiamento Urbano da Brigada Militar surgiu nos anos 50, com emprego de duplas de policiais militares, que passaram a ser conhecidas aqui como “Pedro e Paulo”, inspirados no Rio de Janeiro, onde eram denominados “Cosme e Damião”. Aqueles brigadianos tinham papel ostensivo, andavam fardados e armados pela comunidade, cuidando da segurança e, ao mesmo tempo, do trânsito. O retorno dos “Pedro e Paulo” é uma reflexão importante diante dos recentes esforços da Secretaria de Segurança do RS para colocar mais brigadianos na rua.

O que é Tolerância Zero

A “Tolerância Zero”, ou Teoria da Janela Quebrada, se baseia num paradigma que, se uma janela está quebrada e não é consertada depressa, os ofensores potenciais verão isto como um convite para quebrar mais janelas. Quando as janelas nunca são consertadas, e mais estão sendo quebradas, um senso de desordem é criado, incitando o crime.

Combate ao pequeno crime

Sob a filosofia da Tolerância Zero, o alvo da polícia deve ser o “pequeno crime”, as “pequenas” reclamações de amolação contra cidadãos e as violações da ordem. Ou seja, exatamente o oposto do sistema brasileiro de policiamento, que investiga e (tenta) punir o assassino e traficante poderoso, o colarinho branco, relegando o pequeno delinqüente. A idéia é simples: se você prende pessoas pelos crimes menores, previne que os maiores aconteçam.

Tolerância Zero em NY

A aplicação de estratégias simples de controle de crime baseadas na Tolerância Zero é a mais polêmica de todas as causas da redução da criminalidade em Nova York no início dos anos 90, sob comendo do então prefeito Rudolph Giuliani: coibir e punir autores de pequenos delitos como andar bêbado na rua, pichar muros ou pular a catraca do metrô. A Big Apple, com 18,7 milhões de habitantes, encerrou 2007 com menos de 500 homicídios. Porto Alegre, com 1,42 milhão de pessoas, teve 430 homicídios em 2007.

A explosão do crack e a polícia no bairro*

O crack é uma droga barata, fácil de usar, prontamente disponível e altamente viciante.
O que se apresenta, a partir da Tolerância Zero, como combate efetivo para lidar com o crime de rua, incluindo o tráfico de crack, é uma velha idéia: o policiamento regionalizado, comunitário, contínuo e ostensivo.Os resultados mais duradouros aplicados pela Policia Americana vieram com a combinação: a polícia ostensiva e bem conhecida de todos os moradores, que pacificam o bairro, e o conjunto dos funcionários e trabalhadores sociais “limpam” a rua, simultaneamente. *com base em artigo de Ricardo Holmer Hodara

Baita Livro: ponto de Desequilíbrio

Um baita livro para entender fenômenos como a Tolerância Zero é o “O Ponto de Desequilíbrio”, de Malcolm Gladwell (Editora Rocco). O autor estudou como se formam as epidemias. Assim como uma única pessoa infectada pode dar início a uma epidemia de gripe, também caloteiros e pichadores incentivam ondas de crimes no metrô, ou um clinte satisfeito enche as mesas vazias de um novo restaurante. Baita livro!